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sábado, 12 de junho de 2010

Primeiro dia da Copa do Mundo tem festa e heróis, mas nenhum vencedor


Para explicar o balaço, há quem tenha dado crédito à tão mal-afamada Jabulani, jaburu em forma de bola, a Geni das esferas. O chute quase sobrenatural de Tshabalala, jogador cujo nome é praticamente uma comemoração, foi a maior alegria do primeiro dia de uma Copa do Mundo que promete ser marcada pelas celebrações e demonstrações de euforia do povo sul-africano. Aos 10 minutos do segundo tempo do jogo inaugural entre os anfitriões e o México, o contra-ataque fulminante teve lançamento de Mphela, quase um Gérson na altitude mexicana, e a mão de Carlos Alberto Parreira, que soube mudar o jogo dos Bafana Bafana no intervalo. Foi assim, tomado por exageros e 84.490 torcedores, que o estádio Soccer City explodiu de felicidade naquele momento. No país inteiro, em grandes festas ao ar livre, 49 milhões vibraram junto.

Só não deu para comemorar a vitória. O México, que tinha dominado o primeiro tempo, não estava disposto a repetir sua sina de jogar como nunca, perder como sempre: beneficiado pela ingenuidade da defesa sul-africana ao tentar a tática do impedimento, o experiente zagueirão Rafa Márquez se viu livre com a bola dentro da pequena área e botou pra dentro. Parreira ainda fez uma substituição que contraria sua fama de defensivista: trocou o cansado meia Pienaar pelo atacante Parker, e por pouco não sai dali coroado como uma espécie de Rei Leão: aos 44 minutos, depois de um chutão do goleiro Khune, Mphela dominou com a cabeça já na área mexicana e tocou de canhota, na saída do goleiro: a bola bateu na trave. Placar final: 1 a 1.

besouro cerimônia de abertura copa do mundoBesouro rola a Jabulani (Foto: agência Reuters)

Isso não impediu que as vuvuzelas continuassem sendo sopradas e o barulho ensurdecedor ecoasse por muito tempo após o apito final. Não deu nem para o técnico brasileiro dar entrevista. Sem conseguir escutar nadinha, ele desistiu após a primeira pergunta. Desfecho inusitado, porém pouco surpreendente para quem tinha acompanhado mais cedo a cerimônia de abertura no Soccer Stadium.

Foram pouco mais de trinta minutos de espetáculo, suficientes para deixar clara a exuberância cultural da África do Sul. No desfile, um momento de humor involuntário: um dos símbolos nacionais, uma espécie de escaravelho que se especializou em rolar bolas gigantescas de estrume (e conhecido como besouro rola-bostas), apareceu, em versão gigante, rolando a famigerada Jabulani. As atrações musicais - que incluíam, além dos locais Hugh Masekela e o os Soweto Spiritual Singers, o americano R. Kelly, o argelino Khaled, e o nigeriano Femi Kuti - não ofuscaram uma grande ausência, a de Nelson Mandela, que sofreu com a morte de sua bisneta ontem, em acidente automobilístico, ao voltar do show de abertura da Copa, no Orlando Stadium, em Soweto.

Henry França X UruguaiHenry movimentou o jogo (Foto: Getty Images)

O segundo jogo do dia, entre França e Uruguai, na Cidade do Cabo, teve muitas faltas e escasso futebol. Com Henry e Malouda no banco, o time comandado pelo excêntrico Raymond Domenech mostrou-se pouquíssimo inspirado. Pelo lado uruguaio, apenas disposição e esforços isolados do atacante uruguaio Forlán, eleito o melhor em campo pela Fifa, apesar da péssima pontaria demonstrada durante a jornada. Autor do toque de mão que ajudou a classificar a França para esta Copa (em jogo contra a Irlanda, lance que originou gol de Gallas), Henry entrou em campo e protagonizou novos lances polêmicos: cabeceou, impedido, com grande perigo para a meta uruguaia. Depois, em lance dentro da área, em que a bola bateu no braço - que estava junto ao corpo - do uruguaio Victorino, o francês ainda teve a pachorra de pedir pênalti. No último minuto, ele ainda bateria uma falta perigosa, cortada por Loco Abreu, atacante do Botafogo, que, na barreira, subiu lá no terceiro andar e evitou que houvesse gols na partida. Zero a zero com sabor de zero a zero mesmo.

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No fim das contas, o Mundial anunciado como Copa da igualdade terminou seu primeiro dia sem vencedores: no grupo A, todos têm um pontinho. Mas a África do Sul ganhou um dia inesquecível para sua história. E motivos infinitos para soprar sua vuvuzela.



Confira abaixo os personagens do primeiro dia da Copa da África:

A Juba: Sagna, da França

O lateral-direito francês correu, se esforçou, suou, mas o que chamou atenção mesmo foi seu cabelo para lá de estiloso. Confira o belo penteado!

A Tromba: Blanco, do México

O experiente meia com cara de poucos amigos entrou em campo no segundo tempo e, com a mão direita fez um gesto que pareceu o movimento da tromba de um elefante. O que deu para entender é que, segundo ele, alguém estava se jogando, cavando faltas.

O Mico: Henry, da França

A mão esquerda do atacante francês foi a principal responsável pela classificação do país à Copa, quando ele jogou sujo antes de tocar para Gallas fazer o gol da vitória sobre a Irlanda nas eliminatórias. Mas, nesta sexta, o jogador teve coragem de pedir um pênalti num lance casual contra o Uruguai. Você não, Henry!

O Crocodilo: Lodeiro, do Uruguai

O jovem meia entrou no segundo tempo contra a França para ajudar a criar jogadas ofensivas. Deu duas botinadas e foi merecidamente expulso. Após tomar o vermelho levou as mãos à cabeça, mas não para reclamar, e sim para admitir que jogou fora um sonho de toda a vida.

A Chita: Tshabalala, da África do Sul

O meia sul-africano foi um verdadeiro bólido no gol de empate de seu time com o México no Soccer City. Ele partiu em alta velocidade pela esquerda, recebeu o lançamento preciso de Mphela, entrou na área e mandou um canhão de canhota no ângulo esquerdo do goleiro mexicano.

O Leopardo: Khune, da África do Sul

O goleiro sul-africano brlhou no empate com o México no Soccer City. Em um chute fortíssimo de Giovani dos Santos, Khune saltou com um gato, ou melhor, um leopardo, para impedir que a bola entrasse em seu ângulo esquerdo.

Hakuna Matata: Tshabalala e companheiros, da África do Sul

Além de fazer o golaço do dia, o meia também brilhou ao comandar a festa dos jogadores em campo com uma dança muito alegre. Tudo bem ensaiado.

O Muso: Gourcuff, da França

No Twitter, meninas elogiaram e colocaram o meio-campo francês entre os tópicos mais comentados. O 'Petit Zidane' (Pequeno Zidane) chamou atenção pela beleza e até que fez algumas boas jogadas contra o Uruguai.

torcedora africana musa da copa Torcedora sul-africana ousa na camisa (Foto: EFE)

A Musa e o anonimato:

O fotógrafo da agência EFE 'perdeu a cabeça' com o decotão da torcedora sul-africana no Soccer City. Tanto é que nem se preocupou com o rosto da moça.

tromba da rodada torcedor méxicoTorcedor mexicano inova (Foto: Getty Images)